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domingo, 21 de abril de 2013

O sábio e o falso sábio, como desmascarar um picareta



AutorSebastião Fabiano Pinto Marques
Sabedoria
Conhecer é só uma das etapas do caminho para a sabedoria. Para o sábio, ser e agir são mais imortantes.
Não é difícil parecer sábio hoje em dia. Como vivemos numa sociedade que não se importa com a verdade, a coerência ou a ética, é fácil se passar por alguém nobre, mesmo sendo o mais tosco dos indivíduos.
Há cinco modos diferentes de se relacionar com a sabedoria: o sábio, o beinoini, o filósofo, o homem comum e o picareta (falso-sábio ou kelipá de sábio).
Ser sábio não é para qualquer um. São poucos os que conseguem chegar a tão alto grau. Bons exemplos são Rabi Akiva, a Rainha EstherRabi Isaac Luria e o Rebe de Lubavitch.
O beinoini exercita-se no dia-a-dia para tornar-se sábio. Com disciplina e persistência, ele busca mudar seu modo de agir e pensar a fim de alcançar a a meta. A maioria passa a vida inteira sem a alcançar. Apesar da dificuldade, a busca pela Sabedoria em si já vale a pena.
Támbém há o filósofo. Ele apenas simpatiza-se com a sabedoria, demonstrando agradar-se dela. No entanto, ele não se interessa em mudar a própria maneira de agir e pensar para alcançá-la, pois se satisfaz por apenas admirá-la ou pensar sobre o assunto.
Já o homem comum não demonstra interesse pela sabedoria. Para ele, isso tanto faz. Não se importa com isso e pronto. Até aí tudo bem.
No entanto, há um grupo de pessoas que se passa por sábio ou por quem busca a sabedoria, quando na verdade não a busca, nem se importa com o assunto. São os picaretas, também chamados de falsos sábios ou Kelipá do sábio. Este artigo é dedicado a esse último modo de se relacionar com a sabedoria.
Para atender seus interesses pessoais, esse grupo cria viseiras e cortinas que dificultam a busca por aqueles que se interessam pela sabedoria. Tal indivíduo chamo de falso sábio. Ele é como uma Kelipá: a sombra, a casca, a concha, a falsa aparência de algo que passa a ilusão de ser o algo, quando é, na verdade, sua negação.
Há gente assim em todas as profissões, espalhados por toda parte, independente da renda, classe social, sexo, opção de fé ou etnia. Em função disso, vou ensinar como identificar um falso sábio mencionando as principais características dele (e não são todas!).
A  mentira mata
Cuidado: a mentira mata. O Lashon Hará é um pecado mais grave que o assassinato, o estupro ou o incesto!
1) Mentir, mentir e mentir para ser politicamente correto e ficar na moda. Um falso sábio mente descaradamente e sem pudor, mesmo quando a verdade brilha por si mesma. Ele faz isso para ganhar a simpatia das pessoas. É mais fácil defender uma mentira que todos acreditam do que uma verdade impopular. Um falso sábio evitaria dizer que a monarquia parlamentar é a melhor solução política para o Brasil.
Por quê? Porque se trata de uma afirmação polêmica num país onde todos são ensinados que a república é boa e a monarquia malvada. Todos: o aluno do ensino fundamental, os professores e até quem deveria ser mais atento ao assunto.
Um falso sábio evita dizer algo que desagrade a maioria, mesmo quando é verdade. E por quê? Porque ele quer ser aplaudido! É muito comum ele ficar encima do muro quando é perguntado sobre algo polêmico. Ele faz isso por dois motivos: 1) ele não sabe pensar e não tem opinião própria e, 2) Não quer desagradar ninguém. Faça o teste: pergunte a um “doutor” de universidade pública qual é a opinião dele sobre Capitalismo, Monarquia e Israel. É bem provável que ele tenha uma opinião negativa e depreciativa. Por quê? Porque está na moda falar mal do Capitalismo, da Monarquia e de Israel! Não interessa se for ou não a verdade, os falsos sábios são especialistas na disseminação de fofoca (Lashon Hará) para ficarem na crista da onda. Eles são sofistas perspicazes.
2) Dizer coisas sem sentido. Para convencer as pessoas de que se é alguém excepcional, ele diz coisas sem sentido, que parecem bonitas, como “democracia”, “Direitos Humanos”, “Justiça”, “Integração Social”, “Liberdade” e outros.  Os falsos sábios falam desses assuntos de maneira vaga e genérica, mas não arriscam a dizer o que é de maneira clara e precisa para evitar que a própria ignorância seja desmascarada. Sócrates, um buscador da sabedoria, era perito em desmascarar tais impostores.
3) Ostentação de títulos.  Um falso sábio preocupa-se mais com os títulos que ostenta do que com o que faz ou sabe. Enfim: seu exemplo e suas descobertas não importam. Para ele, o título fala mais alto. Isso porque o falso sábio é uma kelipá do sábio. Enfim: uma concha, uma casca que aparenta ser algo sólido, cheio de conteúdo, mas que, na verdade, é oca, vazia, despida da essência a qual aparenta conter.
Um mau exemplo nesse sentido é o Presidente do STJ, Sua Excelência, o Magnífico, o Ilustre, o Doutor Ari Pargendler, acusado de demitir um estagiário porque o estudante se recusou a sair imediatamente do caixa automático para dar a vez a Sua Excelência que, diferentemente dos outros mortais, não podia esperar na fila para usar o caixa eletrônico. O processo criminal está parado há mais de um ano e tudo leva a crer que ficará por isso mesmo. O incidente aconteceu em 23/10/2010, mas o mais incrível é que em 03/11/2010, Sua Excelência ganhou o troféu Dom Quixote em defesa da ética, da moralidade, da dignidade, da justiça e dos direitos da cidadania! É mole? Bem-vindo à república!
Se ele fosse um homem ético, teria feito o possível para a investigação prosseguir com celeridade a fim de demonstrar sua inocência e também teria se recusado a receber o troféu enquanto o caso não fosse devidamente esclarecido.
sem sentido
Se isto não faz sentido para você, não se preocupe. O falso sábio diz muitas coisas sem sentido.
4) Prolixidade e Citações em língua estrangeira. Um falso sábio adora fazer citações em língua estrangeira para dar um ar sério e importante as bobagens que diz. O alemão e o latim estão entre os idiomas preferidos. Claro: ele também adora escrever dezenas de páginas inúteis, incompreensíveis e sem sentido. Gasta 4 horas e 200 páginas para explicar algo que poderia ser feito em 1 minuto ou uma página. Faz isso para criar a impressão de que seus escritos são elevados demais para que possamos compreender. Mas fique tranquilo: você não é incapaz, ele é que não diz nada.
5) Estão à venda. O falso sábio está à venda para defender qualquer bobagem desde que o paguem bem ou lhe concedam algum cargo de prestígio. Duvida? Então olhe em volta com mais atenção. É bem provável que tenha um bem pertinho de você.
6) Consideram-se deuses. Os falsos sábios se acham criaturas acima do bem e do mal. Eles acreditam que são infalíveis e superiores às outras pessoas. Não possuem autocrítica, nem capacidade de reconhecer o próprio erro. Pensam: “Se minha teoria não explica o mundo, deve haver algo de errado com o mundo!”. Não adianta conversar com ele, nem demostrar o erro. Ele não o escutará, pois você, um reles mortal, não está à altura de falar com um deus…
7) Apego doentio às formas. O Falso sábio sente um tesão doentio pelas formalidades. Ele se preocupa com o tamanho das margens, o tamanho da letra, o espaçamento entre as linhas, se há ou não uma vírgula na frase, se ele sentará na mesa do lado direito ou esquerdo de fulano de tal, se sentará na primeira fileira e todas as milhares de futilidades normatizadas pela ABNT e pelos livros de etiqueta. Elas tornam os trabalhos acadêmicos, especialmente as monografias, numa grande fonte de estresse e chateação. O falso sábio faz isso para se proteger, pois sabe que se as pessoas prestarem mais atenção ao conteúdo do que a forma, sua ignorância será fatalmente desmascarada. Se isso acontecesse quase todos os “doutores” das universidades brasileiras deveriam ser demitidos! Já imaginou se os ocupantes de altos cargos públicos falassem português popular e usassem camiseta e bermudão? Ninguém os levaria a sério. A pompa e os trajes são essenciais para esconder o vazio. Quer irritar um falso sábio? Ao chamá-lo, não diga antes do nome a palavra “doutor”, “mestre”, “Excelência” ou qualquer outra que ele se considere merecedor. É incrível como se irritam só por isso.

Em resumo:

Moisés e a Sarça Ardente
BOURDON, Sebastien. Moisés e a Sarça Ardente. Óleo sobre tela. 136cm x 106,5cm. (1642-1645)
O Brasil tem muita gente com diplomas e que ocupa altos cargos, mas escassas pessoas que buscam a sabedoria. Em geral, a estupidez e a incapacidade de se indignar são avassaladoras. Os sábios e os que  buscam a sabedoria são tidos por loucos e os falsos sábios sempre têm algum título para ostentar a fim de polir o ego. O Brasil é muito promissor para pensadores ignorantes e gente dissimulada. Em contrapartida, a verdade quase nunca acha ocasião para aparecer e é sempre motivo de chacota. E, para nossa tristeza, são os falsos sábios que escrevem os livros formadores da opinião pública. E o pior: eles serão os seus professores e o de seus filhos…
Sabedoria não é informação. Grande parte das pessoas é informada. Até o mais pobre dos homens tem acesso ao rádio e à TV. E muitos têm acesso à internet. No entanto, a maioria não é sábia, nem se importa em buscar a sabedoria.
Não se pode alcançar a sabedoria através de títulos ou altos cargos. Ela não está à venda. O caminho é outro.
O Sábio é. Isso mesmo, verbo intransitivo! Ele é. Não precisa de complemento. É o verbo ser no seu sentido original. O sábio encontrou a si mesmo, ele vivenciou a experiência de Moshê ao encontrar o Eterno de Israel na Sarça Ardente (Parashá de Shemot). O Sábio entende o significado da expressão “Eu Sou o que Sou”.
Numa sociedade que não conhece o significado do verbo ser, a frase “eu sou.” não faz nenhum sentido. Mas para quem é, ou busca ser, ela diz Tudo!
O Sábio é. A kelipá parece. E como uma casca ou uma concha, ela é oca. Não tem conteúdo, pois carece de ser.
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