Ler e não entender, eis a questão
Leio nos jornais que apenas 26 % da população brasileira
alfabetizada, tem a plena capacidade de ler e de entender um texto ,
interpretando-o corretamente, o que me leva por extensão a verificar que
os restantes 74 % dos ditos alfabetizados, não o são, na realidade
seriam analfabetos funcionais.
Decido fazer algumas pesquisas, e descubro que a nossa população
anda por volta dos 196 milhões de habitantes, com alguns cálculos
elementares chego a cifra de 45,1 milhões de possíveis leitores,
levando-se em consideração que o nosso índice de alfabetização está em
88,6 %, portanto somos 22,3 milhões de analfabetos e 128,6 milhões dos
tais analfabetos funcionais, restando então os 45 milhões de brasileiros
em condições plenas de ler um livro, e o mais importante, entendê-lo.
Estou ficando louco ou somos, das nações consideradas emergentes, a
mais desqualificada culturalmente ?
Infelizmente, ainda que estarrecido não pude parar por aí, nada me
prova que estes 45 milhões de capazes, sejam leitores efetivos, ainda
que me falte rigor científico para depurar este número, vou ter que
considerar a nossa arbitrária e intrincada separação de classes, as tais
A,B,C e D, sabemos que um livro é considerado supérfluo, sabemos que
nem todas as pessoas tem o costume de ler, sabemos que os professores
recebem pouco, sabemos que o ensino público está falido, se não
estivesse não precisaríamos do sistemas de cotas para reparar erros do
passado e do presente, o governo investe mal, isto quando a verba não é
desviada e consegue chegar até o destino final. É grave a situação !
Para espairecer, assisto uma reportagem que me informa que a
vendagem de livros no Brasil se mantém estável, mas com viés de baixa.
Esta mesma reportagem me avisa que o número das tiragens de livros
editados foram diminuídas pela metade, e o volume de venda se mantém
pela duplicação de lançamentos, e que as editoras se equilibram numa
corda bamba, que a maioria dos títulos dão prejuízo, que existem
editoras que inclusive não lançam novos autores, apenas reeditam os
clássicos, por eles não serem perecíveis, sujeitos a modismos, e irão
vender para sempre.
Converso com a gerente da livraria que sou cliente, e ela
preocupada me relata, que a venda se sustenta aos trancos e barrancos
com os livros de auto-ajuda e com as publicações consideradas por ela
como "modismos", livros de técnicos de futebol, biografias e qualquer
coisa escrita por figuras com visibilidade garantida na mídia
televisiva. São poucos os clientes considerados "habitués" , aqueles que
entram na livraria pelo menos uma vez por mês, e se metem no meio dos
corredores de estantes de livros, a garimpar um.
Para finalizar, vou dar uma olhada nas premiações literárias mais
significativas, e constato que elas, salvo algumas raras exceções, foram
totalmente politizadas, premiando-se não pelo conteúdo da obra, mas
pelo grau das relações mantidas pelo autor com o poder.
Sinto vontade, se eu assim pudesse, de escrever uma carta para o
Fernando Sabino, Rubem Braga, Carlos Drummond, Pedro Nava, Paulo Mendes
Campos e muitos outros mestres que já partiram, só para citar alguns,
sendo injusto com outros, relatando estes fatos, mas é bom que isso não
seja possível, eles merecem descansar em paz, eles cumpriram dignamente
com a sua missão, e afinal de contas daqui a pouco tudo vai ficar bem de
novo, teremos a Copa do mundo de futebol e a propaganda eleitoral para
divertir-mo-nos.
Vou falar sinceramente, mesmo que seja considerado um velho piegas
e babaca, encho os meus olhos de lágrimas ao pensar no futuro dessa
nossa juventude, condenada a viver nas trevas da ignorância, da falta de
conhecimento, até para discernir o certo do errado, o ético do
reprovável, e acabar sendo manipulado por uma classe de políticos e de
tantos outros administradores públicos, pois a eles interessam a nossa
ignorância, para que cada vez mais nos enterrem num poço sem fundo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário