Pesquisar este blog

segunda-feira, 23 de julho de 2012

Ler e não entender, eis a questão

   Leio nos jornais que apenas 26 % da população brasileira alfabetizada, tem a plena capacidade de ler e de entender um texto , interpretando-o corretamente, o que me leva por extensão a verificar que os restantes 74 % dos ditos alfabetizados, não o são, na realidade seriam analfabetos funcionais. 

   Decido fazer algumas pesquisas, e  descubro que a nossa população anda por volta dos 196 milhões de habitantes, com alguns cálculos elementares chego a cifra de 45,1 milhões de possíveis leitores, levando-se em consideração que o nosso índice de alfabetização está em 88,6 %, portanto  somos 22,3 milhões de analfabetos e 128,6 milhões dos tais analfabetos funcionais, restando então os 45 milhões de brasileiros em condições plenas de ler um livro, e o mais importante, entendê-lo. Estou ficando louco ou somos,  das nações consideradas emergentes, a mais desqualificada culturalmente ?

   Infelizmente, ainda que estarrecido não pude parar por aí, nada me prova que estes 45 milhões de capazes, sejam leitores efetivos, ainda que me falte rigor científico para depurar este número, vou ter que considerar a nossa arbitrária e intrincada separação de classes, as tais A,B,C e D, sabemos que um livro é considerado supérfluo, sabemos que nem todas as pessoas tem o costume de ler, sabemos que os professores recebem pouco, sabemos que o ensino público está falido, se não estivesse não precisaríamos do sistemas de cotas para reparar erros do passado e do presente, o governo investe mal, isto quando a verba não é desviada e consegue chegar até o destino final. É grave a situação !

   Para espairecer, assisto uma reportagem que me informa que a vendagem de livros no Brasil se mantém estável, mas com viés de baixa. Esta mesma reportagem me avisa que o número das tiragens de livros editados foram diminuídas pela metade, e o volume de venda se mantém pela duplicação de lançamentos, e que as editoras se equilibram numa corda bamba,  que a maioria dos títulos dão prejuízo, que existem editoras que inclusive não lançam novos autores, apenas reeditam os clássicos, por eles não serem perecíveis, sujeitos a modismos, e irão vender para sempre.

   Converso com a gerente da livraria  que sou cliente, e ela preocupada me relata, que a venda se sustenta aos trancos e barrancos com os livros de auto-ajuda  e com as publicações consideradas por ela como "modismos", livros de técnicos de futebol, biografias e qualquer coisa escrita por figuras com visibilidade garantida na mídia televisiva. São poucos os clientes considerados "habitués" , aqueles que entram na livraria pelo menos uma vez por mês, e se metem no meio dos corredores de estantes de livros, a garimpar um.

   Para finalizar, vou dar uma olhada nas premiações literárias mais significativas, e constato que elas, salvo algumas raras exceções, foram totalmente politizadas, premiando-se não pelo conteúdo da obra, mas pelo grau das relações mantidas pelo autor com o poder.

   Sinto vontade, se eu assim pudesse, de escrever uma carta para o Fernando Sabino, Rubem Braga, Carlos Drummond, Pedro Nava, Paulo Mendes Campos e muitos outros mestres que já partiram, só para citar alguns, sendo injusto com outros, relatando estes fatos, mas é bom que isso não seja possível, eles merecem descansar em paz, eles cumpriram dignamente com a sua missão, e afinal de contas daqui a pouco tudo vai ficar bem de novo, teremos a Copa do mundo de futebol e a propaganda eleitoral para divertir-mo-nos.

   Vou falar sinceramente, mesmo que seja considerado um velho piegas e babaca, encho os meus olhos de lágrimas ao pensar no futuro dessa nossa juventude, condenada a viver nas trevas da ignorância, da falta de conhecimento, até para discernir o certo do errado, o ético do reprovável, e acabar sendo manipulado por uma classe de políticos e de tantos outros administradores públicos, pois a eles interessam a nossa ignorância, para que cada vez mais nos enterrem num poço sem fundo. 

   
 
Fonte: http://tedioso.com/target/97790/999/

Nenhum comentário:

Postar um comentário